sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vício: Mini Fazenda


Eu tenho uma mini fazenda e posso garantir que minha atuação como fazendeira é de dar inveja a muitos. Tenho vacas, galinhas, porcos, cavalos, uma raposa e até um hipopótamo. De minhas terras nasce tudo, de flor de lótus a café. Apesar disso, eu moro no asfalto, nunca peguei numa enxada, não sei tirar leite de vaca e meu arroz demora quatro dias para ser colhido. Ou seja, impossível conceber que eu tenha a tal vida de estancieira. Mas isso não me impediu de ter a minha mini fazenda. Sabe como é, se você quer, você pode se você tem internet, a disseminadora de informações e grandes idéias, mas também o parque de diversão dos desocupados.

Foi uma amiga que me indicou o aplicativo Mini Fazenda, do Orkut. Me parecia algo sem graça, mas me rendi, afinal de contas, quem não quer ser dono de terras? Ainda mais em um país onde a distribuição delas é tão mal feita. Já faz quase dois meses que eu brinco de ser fazendeira, mas a brincadeira já se transformou em uma terapia, coisa séria, apesar de todos os comentários de repreensão. Estava construindo um galinheiro na minha fazenda virtual e pedi tijolos para meus vizinhos no aplicativo. Uma amiga viu e falou com o pai, que comentou que iria a minha faculdade me levar o tal tijolo. Como pode uma menina que nunca viu uma vaca na vida ter uma fazenda?, foi o que ele pensou. Tive que rir. É verdade e me fez refletir. O máximo que já fiz, no quesito plantação, foi colocar uns feijões envoltos por algodão num cálice de plástico, na época da pré-escola. E certamente essa também é a realidade de muitos de meus vizinhos de jogo.

Desde que entrou a primavera, o aplicativo lançou uma nova missão aos seus fazendeiros: adubar a fazenda dos outros e achar materiais recicláveis para reciclar. Ao fazer isso, ganhamos pontos. Todos se esforçaram para reciclar o maior número de materiais, mas e na vida offline, será que eles têm essa mesma consciência ecológica? Provavelmente não, ou pelo menos, não com tanta disciplina.



Essa é a realidade da era moderna. Podemos ter uma vida através do computador, mas não necessariamente ela condiz com a realidade, e isso porque na web ela pode ser como quisermos. Podemos ser fazendeiros ou estrelas, sem nem ao menos ter terras ou saber brilhar.

Apesar disso, eu não vou largar minha fazenda. Não vou dizer que a internet é ruim, porque não é. Você pode ter a noção de como os alimentos chegam a sua mesa, de como dá trabalho cultivá-los, sem nem ao menos sair da cidade ou da frente do computador. Além do mais, como já mencionei, é minha terapia. Passamos o tempo todo tão atribulados que precisamos de uma válvula de escape. Alguns fazem tricô, outros andam de bicicleta e outros ainda somente dormem. Mas na minha experiência, as coisas mais bobas são as que mais funcionam. Então fico eu com a minha fazenda.

*Crônica escrita para a cadeira de rádiojornalismo III

Para saber mais sobre a Mini Fazenda (e quem sabe, se viciar também), acesse o site oficial http://blog.vostu.com/minifazenda/

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